Narração e apresentação

O futebol é um dos esportes que mais instiga o interesse do povo brasileiro, seja para praticá-lo ou apenas acompanhá-lo. A identificação das pessoas com o esporte e, consequentemente com os temas relacionados a ele, perpassa os conceitos e definições da comunicação de massa e atinge outras áreas das ciências humanas como a psicologia, a sociologia e a antropologia, constituindo uma hermenêutica própria, que por sua vez, apresenta a relação entre as pessoas e as práticas esportivas, os ídolos, ou mesmo, os equipamentos. Como já afirmamos anteriormente, um dos critérios mais utilizados e que proporcionam audiência na comunicação contemporânea é a capacidade de aglutinação de público em torno dos assuntos apresentados; Isto se dá, muitas vezes, a partir do critério de identidade, entre o que está sendo comunicado e o receptor. A produção audiovisual, não é diferente das outras produções intelectuais que participam da configuração do espaço social e exercem um poder de influência na formação da opinião pública, assim como contribuem com a constituição da identidade cultural da sociedade. Ao refletir a relação de identidade entre a população soteropolitana e o equipamento esportivo “Estádio da Fonte Nova”, utiliza-se os pressupostos teóricos da linha anglo-saxã da Análise do Discurso, que tem origem antropológica e analisa o discurso oral, através do método interacionista. Entende-se aqui por identidade aquilo que: “costura, [ou para usar a metáfora médica, ‘sutura’] o sujeito à estrutura. Estabiliza tanto os sujeitos quanto os mundos culturais que eles habitam, tornando ambos unificados e previsíveis” (HALL, apud SIMONETTI JR, 2002) Este é o ponto de partida para sistematização e identificação da relação ambígua que o cidadão baiano, seja torcedor ou não, estabelece com a Fonte Nova. Este também foi o ponto de partida para escolha das fontes, determinação dos personagens e até mesmo, recorte da edição da narrativa. Seguindo a determinação teórica de Simonetti Jr. que define a identidade como a marcação da diferença, pode-se afirmar que as identidades culturais são elementos da nossa identificação pessoal suscitados pelo sentimento de ‘pertencimento’, às culturas étnicas, lingüísticas, religiosas, e acima de tudo, nacionais. Assim fica mais fácil entender como se dá o pertencimento do povo baiano para com o a Fonte Nova. Recuperando a história do estádio, percebe-se que desde a localização, central, no coração da cidade, até as suas características arquitetônicas, são elementos que fazem as pessoas perceberem a importância do equipamento e criarem sentimentos de aproximação ou distanciamento dele. “Ao classificar os fenômenos culturais, as identidades não apenas buscam determinar o que está incluído e o que não, mas também estabelecem relações de poder entre o Eu e o outro (por meio de processos de valorização), uma vez que a identidade só pode ser definida em contraposição àquilo que não é, estabelecendo posições de valor entre o que pertence e o que não pertence a uma determinada identidade...” (SIMONETTI JR, 2002) Isto justifica, por exemplo, a presença mais perceptível, de torcedores do Esporte Clube Bahia, no vídeo, emitindo opiniões favoráveis e saudosistas relacionadas ao estádio. Durante quase duas décadas o Bahia, teve como principal mando de campo o Octávio Mangabeira. Ali foram festejados títulos e presenciados inúmeros espetáculos da agremiação tricolor. O sentimento de pertencimento da população baiana, inspirado especialmente nos torcedores do Bahia, se potencializa no momento em que o estádio entra em estágio de degradação. Com a ameaça de demolição, a cidade se volta ao equipamento e passa a defendê-lo veementemente, inclusive com indicações de transformá-la em patrimônio histórico cultural . O que seria o ápice do pertencimento e da identificação da população baiana com o equipamento esportivo.

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